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sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Maria vai vivendo. (Parte Três)

       
          Cansada e ansiosa para ver o que me esperaria na manhã seguinte resolvi tomar um banho morno e dormir. A água estava quase fria, isso me fez desistir da ideia de um longo banho, quando deitei na cama não conseguia parar de pensar no que o rapaz quis dizer, o motivo de não ter ninguém nas ruas quando anoitece e principalmente o que significavam aquelas palavras.
          Quando acordei o sol já estava no céu, provavelmente avisando aos moradores dali que já poderiam, por algum motivo que eu não sabia qual, sair de suas casas e viver normalmente. Tomei um café da manhã bem reforçado, com esperanças de que as atividades do dia fossem surpreendentes. Ao passar pela recepção a moça me chamou, e disse:
-Não fique até anoitecer para fora, você pode não voltar. Você não faz ideia do que existe aqui em Luzes. Cuidado.
Fiquei espantada, parecia até minha avó me falando que não deveria ficar até tarde nas ruas, porém ela demonstrou realmente estar certa do que estava falando, e isso me fez ficar pensativa. Lúcio estava me esperando no mesmo local, ao menos acho, dessa vez ele não estava com nada.
-Onde vamos hoje?
-Vamos passear de canoa pelo lago.
          E começou a caminhar em direção a uma ruazinha de terra, com árvores aos lados, e flores selvagens por todos os cantinhos entre a grama. Quando avistei a canoa logo vi sua mochila já colocada na ponta, subimos e fomos bem devagar. Ele não falou nada além de me responder no inicio, então resolvi começar a série de perguntas.
-Lúcio, por que a cidade deveria se chamar Escuridão?
-Você não precisa saber de certas coisas, está aqui só de passagem e sairá logo daqui, e se tiver juízo nunca mais voltará.
-Você só está me deixando mais curiosa, não com medo.
-Não é pra ficar com medo Maria, basta saber que de noite não é seguro.
-Qual a chance de você me falar a verdade oculta?
-Nenhuma. Esqueça, e curta sua estadia enquanto é dia, porque a noite é proibida.
-Certo. Então me conte de Luzes, como era antigamente?
-Essa cidadezinha nunca teve nada de mais, e acredite, isso era muito bom. Todos viviam felizes, e essa felicidade a iluminava. A praça tinha muitas flores, de todas as cores, cada ruazinha como a que passamos hoje era única, com um ar romântico, os casais possuíam suas preferidas e as batizavam, era simplesmente esplêndido cada lugar onde elas iam dar. A que passamos hoje se chama Sole Novum, é a rua que meus pais batizaram. Sole Novum significa novo sol, eles acreditavam que o amor deles era um novo sol que poderia iluminar até a mais profunda escuridão.     
-Que belo passado Luzes tem. E o amor dos seus pais parece ter sido lindo. Obrigada por confiar suas lembranças a mim.
-Não há do que agradecer, falar e lembrar de tudo isso me faz acreditar que ainda temos esperança. Só não me peça para lhe contar coisas que não devo.
-Por que não deve?
-É melhor aproveitar o passeio. Lembre que cada destino das ruazinhas são únicos, e esse é mais que único. Ouça o que eu digo e não tente adivinhar o que eu não digo, pois qualquer que seja sua imaginação não chega nem perto do que realmente é.






***Parte Um
***Parte Dois

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