Sábado de tarde, acho que umas quatro horas e pouco, me
bateu uma vontade de fazer algo diferente, desafiador, que eu não pudesse
imaginar. Liguei pra minha melhor amiga, perguntei se ela tinha uma ideia, ela
disse que não, logo em seguida e disse que seria uma boa ideia viajar para um
lugar que eu não soubesse nada, agradeci e desliguei. Achei um bom negócio,
resolvi ir, tinha três problemas, dinheiro, idade e para onde ir.
Com apenas quinze anos não possuía uma grande quantia em
dinheiro, eu tinha uma poupança, daquelas que só os pais mexem, daí eu pensava,
porque é minha se eu não posso fazer nada. Consegui achar míseros duzentos
reais, essa grana pagaria minha passagem, e o que viesse pela frente. Quanto a idade, eu falaria que
iria visitar uma tia, e isso bastava para enganar o motorista. Decidir ir para
uma cidadezinha chamada Luzes, próxima da minha, porém pouco se ouvia falar
dela, eu pelo menos não sabia nada de lá.
Fiz minha mala, na verdade uma mochila, com cinco mudas de
roupa, uma toalha, e de calçado bastava meu tênis, coloquei também dois pacotes
de biscoito, caso me desse fome, afinal não poderia gastar meu dinheiro com
besteiras. Escrevi um bilhete para minha vó, falando que passaria uma semana na
casa de uma amiga, e avisando que tudo estaria bem.
Tudo pronto. Mochila nas costas, dinheiro no bolso e fone no
ouvido. Comprei a passagem, entrei no ônibus sem nenhuma complicação. Primeira
parada, metade do ônibus desceu, segunda parada, quase todos já saíram, tinha
apenas eu e uma família, com provavelmente o pai, a mãe, jovem os dois por
sinal, e uma criança de aparentemente sete anos. Estaria tudo bem se a criança
não tivesse pesadelos à noite, ela falava coisas relacionadas a um acidente,
que o ônibus estava destinado a um grave acidente.
No dia seguinte, faltando apenas três horas e meia para
chegarmos a Luzes, passamos por um acidente horrível, um caminhão bateu em um ônibus.
Fiquei impressionada, e me perguntei como era possível, acabei ficando com a
ideia de que era apenas um acaso. Ficaria mais tranquila se vinte minutos antes
do desembarque o menininho não tivesse vindo até mim para avisar que deveria
tomar cuidado com uma mulher bonita, e para que eu não me iludisse com coisas
diferentes, teria que me afastar de tudo que me deixasse curiosa, e finalizando
ele ainda disse que o melhor que eu faria era voltar para minha casa.
Fiquei assustada, porém não liguei, guardei aquelas
palavras, mas não ficaria confusa. Pensei em voltar, mas acreditei que pudesse
ser apenas paranoia do garotinho. Desci do ônibus, procurei uma pensão
baratinha, achei uma perto da ponte. A cidade era bonitinha, só que de Luzes
não tinha nada.