Era dia 17 de maio, me lembro bem, talvez nunca esqueça.
Naquela época eu tinha cabelo grande e tinha uma pequena parte raspada, na
lateral, hoje em dia isso é moda, mas naquele tempo era rebeldia extrema.
Estávamos num acampamento de verão, eu sempre andei com grupinhos tarjados como
perigosos, havia uma trilha abandonada e proibida, como só fazíamos coisas
proibidas, melhor dizendo, coisas que nos desafiavam, entramos na mata por
aquela trilhazinha.
Tinha eu, Carol, Antônio e Marquinhos, cada um com uma
mochila com comida e água. Escondidos, com uma alegria pra lá de estranha e uma
coragem perigosa, seguimos em frente com o plano, quando fomos subindo
encontramos uma placa dizendo cuidado, nem ligamos, isso não importava. Quando
já era escuro decidimos dormir em baixo de uma árvore, que por sinal, havia
algumas marcas de garras e belas flores.
Carol tinha uma lanterna, colocamos ela bem no meio da
rodinha, Marquinhos e Carol se afastaram de mim e do Antônio, eles tinham um
caso, paixão, porque assumir e ser fiel não constava no relacionamento deles.
Antônio sempre demonstrou muito afeto por mim, mas eu o amava muito, como
amigo. Depois de algum tempo Marcos volta sozinho e ferido alegando que
Carolina tinha sido atacada por uma formiga, muitas, várias, uma tropa delas,
ele estava em pânico, dizia que tinha feito de tudo, mas que ela não
sobreviveu.
Ficamos atentos a tudo, e resolvemos voltar logo de manhã,
antes disso tiramos onda com a cara dele, e demoramos um tempo para perceber
que ele falava a verdade. Não pisquei o olho por um bom tempo, mas acabei
dormindo no colo de Tônio. Ele também dormiu, e acordamos com um grito, era
Marquinhos pedindo ajuda, tentamos segui-lo mas quando o vimos havia formigas o
devorando, como se fosse uma balinha de goma, e aquilo não sai da minha cabeça
até hoje, horrível.
Pior ainda foi quando elas começaram a nos perseguir, e sem
querer nos perdemos. Naquele momento me senti sem esperanças, como se fosse meu
fim, minha, nossa sorte foi que Antônio sabia como se guiar pelo sol, e ele
tinha prestado atenção quando subimos a trilha, ele me explicou o que
deveríamos fazer, e alertou –me dizendo que eu deveria saber como voltar caso
algo acontecesse com ele. E isso aconteceu, no meio do caminho, quando
estávamos perto da trilha, elas voltaram e tentaram me atacar, ele me protegeu
e falou para seguir em frente que ele voltaria logo depois. Corri como se fosse
minha última tentativa de ficar viva, cheguei ao acampamento chorando, as pessoas
estranharam, e logo começaram a perguntar sobre tudo, e ficamos ali até o resto
da tarde.
Mandaram um grupo de buscas para cima do morro, mas não
encontraram nada. Faz uma semana que me ligaram dizendo que acharam os
esqueletos dos meus colegas, hoje sou uma mulher tranquila, que não faço mais
nada do que eu tenha total certeza das consequências. E meu aniversário é
amanhã, e sempre me lembro disso, todas as noites, como se fosse uma saga, que
me comove a cada vez que tudo se passa em minha mente, como Tônio foi que me
salvou, e por conta disso passei a estudar mais sobre os pontos que podemos
tomar de referência em relação ao sol, em sua homenagem e para toda vez que
olhar para meu pulso, tatuei uma rosa dos ventos, que é o símbolo do meu
segundo nascimento.
Legal gostei da historia :D
ResponderExcluirObrigado Paulo =D
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